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Incertezas

Abril 27, 2020

São dias complicados estes, lêmo-lo por todo o lado e constatamos que, de facto, por toda a parte, os sinais de que vivemos a réplica de histórias que vimos em filmes “do futuro” se manifestam à nossa frente, como se a realidade superasse as narrativas que fizeram o deleite de tardes de Verão, na companhia de amigos, no cinema ou em casa.

Assim é: um dia acordámos e o mundo tinha mudado. Ou talvez não.
Talvez importe pensar nestes tempos de pandemia como o sublinhar profundo da nossa condição animal, muito mais do que humana. Depurando tudo o que o virus veio trazer e deixando a coisa reduzir em lume brando, o que fica, no fim, é a conclusão de que, apesar de toda a regra e toda a organização a que a espécie humana se submeteu para se organizar e para evoluir, a sua natureza animal é, e será sempre, vulnerável ao inesperado e ao que a possa fazer tremer enquanto matéria – porque as ideias, essas, mantêm-se e são elas que podem salvar a matéria, haja resiliência, vontade e saber.
O animal – ser humano – tem, hoje em dia, mais e melhores formas de combater uma doença que o possa colocar em cheque, mas numa primeira instância (e foi exactamente isso que nos afligiu e aflige) o que sobressai é a fragilidade do equilíbrio em que o ser humano se encontra. Desta vez, pasmemo-nos, fomos nós que saímos mal na perda de equilíbrio e é exactamente aí que somos surpreendidos: não estamos habituados a perder nos constantes desequilíbrios que provocamos no mundo enquanto espécie. O problema ambiental é reduzido às extravagâncias de uma qualquer miúda sueca que “tem a mania” e o discurso das gerações futuras é um enorme vazio de demagogia, assente em medidas medrosas e tímidas, embrulhadas em papel de compromisso sério e preocupado. No entanto, em última instância e até aqui, o final do dia em casa, com comida, regado a beijos e abraços estava assegurado – ou pelo menos em metade do mundo humano (os outros, os da outra metade continuavam a enfrentar dificuldades, mas a vida continuava, como sempre, até aqui).
A crise climática fez bons slogans e boas bandeiras, e ganhou adeptos que continuaram, e continuam, a comer carne tranquilamente e a beber leite ou a comer apenas galinhas criadas ao ar livre – afinal de contas é mau, mas é menos mau, concluimos todos, seguros de que sempre fomos ecologistas. Chegámos ao ponto de sentir que fazíamos já muito ao separar o lixo pelas três cores que nos dão a escolher e que lá longe é que as coisas estavam muito mal.
Olhámos a fome com a sobranceria de países do primeiro mundo para com países em desenvolvimento, concluindo que, mal ou bem, a fome já não é o que era há uns anos valentes, e que aos poucos estávamos a conseguir equilibrar.
Fomos mentindo e tapando as mentiras com a recompensa de, no fim do dia, tudo estar mais ou menos como estava antes: seguro por um tempo.

Foi mais ou menos por aqui que o vírus nos apanhou: achámos sempre que seria uma coisa lá da China, lá longe, e que certamente por lá ficaria. Esquecemo-nos que as fronteiras são do campo das ideias, da organização, das regras, e que, mais do que nunca, enquanto ideias, estão (e ainda bem) ultrapassadas. Vivemos todos no mesmo mundo e, mais do que fazer slogans e/ou músicas que nos juntem sob um mesmo hino, é nestes momentos de dificuldade e desafio que devemos aprender, de uma vez por todas, que discursos inflamados que colocam o sublinhado da questão entre “nós” e os “outros”, são discursos vazios e estúpidos, porque não são deste tempo nem dos dias que hão de vir: são desactualizados e apontam para um passado bafiento que nunca, em altura alguma, trouxe segurança ou estabilidade.

Por altura das eleições americanas em que o actual presidente conquistou o seu lugar, o filósofo esloveno Slavoj Žižek em conversa com Owen Jones, dizia com algum sentido de provocação que Trump era um mal necessário, porque obrigaria a uma verdadeira reacção e a uma re- organização de um pensamento mais à esquerda, para conseguir combater a demagogia e o perigo que ele representava. O problema seria Hillary e não Trump – seria afinal a continuidade do sistema viciado VS a completa ruptura com tudo o que se havia visto até ali.

A vitória de Trump assentou, para além de tudo, na enorme descrença a que a sua candidatura foi condenada por uma sobranceria desse mesmo pensamento mais à esquerda, sempre com um discurso de que “isso nunca irá acontecer”. Aconteceu. Acontece todos os dias do outro lado do Atlântico e tem repercurssões em todo o mundo e esse pensamento de oposição a Trump ainda não se organizou, nem se re-inventou e é urgente que o faça.

Alguns de nós acharam, perante o cenário que está montado nos EUA no que diz respeito à pandemia, que Trump seria agora, mais do que nunca, apertado por uma crítica forte à sua incapacidade governativa e ao seu discurso xenófobo e racista quando repetidas vezes falou do “vírus da China”. A verdade, pasme-se, é que mais uma vez confiámos que algo, desta vez invísivel, faria o trabalho por nós e exporia, para lá das evidências, a completa desadequação de um homem para um dos cargos de maior importância a nível mundial. Mais uma vez, de forma cegamente confiante, sentámo-nos à espera que a nossa certeza absoluta resultasse.

Nestas últimas semanas, Trump tem virado o discurso contra a Organização Mundial de Saúde, tem virado o discurso contra os democratas, tem virado o discurso para uma teoria da conspiração ainda mais dantesca do que os piores conspiradores conseguiram elaborar. À hora a que escrevo este texto, já morreram 47.800 americanos e estão infectados 850.000 e o Mundo Humano assiste e, mais grave do que isso, ainda chega a concordar com Trump, mesmo perante as maiores evidências de que a mentira e a demagogia foram e serão, uma das principais causas da propagação desta doença.

Trazer Trump à baila num texto deste género serve apenas e só para partilhar uma ideia: o Mundo não mudou. Nós, humanos, fomos instigados a mudar sobretudo na maneira de olharmos uns para os outros e de colaborarmos uns com os outros. Interessa perceber se vamos, ou não, agarrar essa oportunidade. Com certeza que ficar no mesmo ponto não é solução, como também não é solução a extrema direita, de um oportunismo infantil e vazio no nosso país, quando nada do que propõe sugere futuros, mas apenas e só o medo.

É, acredito, o total oposto que tem feito a diferença e que aponta direcções para o futuro. Há toda uma lista de objectivos: é muito menos a clivagem entre o “eles”, os “outros”, e “nós”, mas sim a aproximação, a cooperação, a procura de soluções para todos; é muito mais olharmos o mundo como um todo, em que a eterna necessidade de estender a mão entre países ricos e pobres não faça sentido, mas sim uma coexistência activa e justiça entre hemisférios neste mesmo planeta; é muito mais entendermos que as espécies vivas, do planeta, fazem parte de um equilíbrio que o capital não compreenderá nunca e que as ideias que fomos tendo enquanto colectivo sobre como nos organizarmos já precisam de reformas grandes; e é ainda obrigatório que passemos a olhar para a lógica comunitária como uma mais-valia e não como um retrocesso. O Mundo não mudou. Podemos mudar nós. Como? Percebendo que a mudança necessária é esta: transformar a utopia numa proposta concreta de união e de trabalho conjunto para que a espécie humana deixe de ser uma ameaça ao equilíbrio global e que, assim, possa ser ela própria, enquanto espécie, menos ameaçada também.

Biografia do Autor:
Manuel Pureza, Coimbra, 1984.
Realizador de televisão e cinema, conta com algumas curtas metragens premiadas nacional e internacionalmente, bem como alguns videoclips para algumas das mais importantes bandas nacionais.
Vencedor do Motelx em 2012 e nomeado para dois International Emmy Awards. Faz parte do colectivo Meia Laranja e é produtor na Coyote Vadio.

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